Dalva Nascimento, a mulher que dedicou parte da sua vida para pessoas com Down
Por Carlos Alexandre |
Fotos: Arquivo Pessoal Dalva Nascimento |
No mundo contemporâneo, o combate ao preconceito e as várias formas de racismo são constantemente evidenciados por pessoas que lutam por essas causas. Na década de 1980, em Parintins (AM), a situação era muito diferente. Crianças com síndrome de Down, por exemplo, eram mantidas distante das crianças tidas como “normais”. A luta pela inclusão dos pequenos com o cromossomo 21, e, com outros tipos de deficiência, nas escolas, foi iniciada pela professora Dalva Maria Ribeiro Nascimento, a pioneira em buscar a visibilidade e o protagonismo das crianças com Down.
Aos 69 anos ela deveria estar em casa, pois é aposentada, mas o amor para com as crianças atendidas pela Associação Pestalozzi de Parintins, da qual é presidente, fala mais alto. Sua história começa com um curso de 180 horas, no início dos anos 80, para integrar as crianças com deficiência às salas de aulas. Ao começar o seu trabalho como supervisora, ela se surpreendeu com os locais onde colocaram as crianças para estudar.
“Eram salas pequenas para receber entre 8 a 10 alunos. Essas salas já eram excluídas da própria escola porque geralmente eram salinhas localizadas no porão. Eram salas pequenas onde ninguém queria estudar e as crianças eram colocadas ali. As crianças eram excluídas dentro da própria escola”, lembra.
A situação gerou um grande embate entre a gestora da escola, na época e a professora Dalva Nascimento. O grupo escolar não queria receber os novos estudantes. “Consegui reunir dez alunos, desses dez 8 eram síndrome de down, a contragosto da diretora da época”, contou.
A luta da professora Dalva Nascimento repercutiu junto as instituições. Ela queria mostrar que aquelas pessoas existiam e precisavam ser atendidas. A militante da causa das pessoas com down sensibilizou o sistema de educação e o prefeito da época, Gláucio Gonçalves que com a Federação Pestalozzi do Amazonas contribuíram para a criação da Sociedade Pastalozzi de Parintins. A primeira sede funcionou na casa de pessoas que emprestaram o local para atender as 10 crianças que estudavam no porão de uma das escolas da cidade. A estrutura tinha Dalva Nascimento como gestora, os alunos e mais duas servidoras.
A Pestalozzi de hoje
Em abril de 2023 a Associação Pestalozzi de Parintins vai completar 38 anos. No prédio agora localizado na Avenida Nações Unidas, centro da cidade, muitas vidas foram salvas, muitas histórias foram vivenciadas e muitos personagens marcaram o coração da mulher que doou grande parte da vida dela para as pessoas com deficiência intelectual.
“Trabalhar com pessoas com deficiência é gratificante. É uma outra forma de ver os alunos, é outra forma de ver a educação, é outra forma de ver o ser humano, a gente vê o ser humano de uma forma diferente, cada um com sua especificidade, cada um com sua capacidade, cada um com a sua dificuldade, mas principalmente recebendo muito amor dessas pessoas”, conta.
Associação Pestalozzi de Parintins além das pessoas com down atende também outros tipos de deficiência, transtorno, deficiência múltipla, baixa visão entre outros, apenas pessoas surdas não são atendidas em virtude de Parintins contar com uma escola de áudio comunicação. Nascimento relata com orgulho a turma de pessoas cegas que foi atendida na escola pela professora Socorro Brandão e que está se destacando no mercado de trabalho em várias frentes. “Isso é motivo de muito orgulho para nós. Sabermos que encaminhamos as pessoas, que eles estão bem ativos na sociedade, que eles estão produtivos e não se sentem inúteis”, comemorou.
Ela lembra que quando as salas de aulas não contavam com o professor de apoio, a servidora da Pestalozzi, professora Socorro Brandão trabalha voluntariamente para dar suporte aos alunos. “São histórias de humanidade, histórias de solidariedade e empatia. A gente nunca precisou receber tanto dinheiro para fazer o nosso trabalho”, refletiu.
A escola da Associação Pestalozzi é a professora Dalva Nascimento, foi a luta dela que motivou o cuidado e o tratamento das pessoas com deficiência. E, com ela, a escola não parou no tempo, foi se desenvolvendo, crescendo, se adaptando, modernizando, sempre acompanhando o sistema educacional. Atualmente o educandário especial trabalha o tripé, educação, saúde e assistência social e conta com 178 alunos atendidos em 2023 com oficinas de arte, música, pintura em tela, pintura em tecido, dança, teatro, além dos atendimentos com fisioterapeuta, médico, assistente social, psicólogo entre outros. Os pais e mães dos alunos também são atendidos. Km atividades de gastronomia (pais) e corte costura (mães).
Mulher, a mãe de uma causa, a luta que se transformou em escola e a assistência as inúmeras famílias humildes que não teriam forças suficientes para cuidar dos filhos com down ou com deficiência, se não fosse o trabalho da Associação Pestalozzi. Dalva Nascimento todos os dias pensa em desistir, mas é diariamente desafiada a continuar lutando e evidenciando o protagonismo daqueles que não devem ser chamados de doentes, pois são pessoas sadias e normais, cheias de amor no coração.