Aluno de escola pública de Ji-Paraná é vencedor de concurso nacional de desenho; obra retrada biomas
Foto: Foto: Rodrigo Cabral/Ascom MCTI
Jhonatan Kallil, de 17 anos, chega no lugar marcado e já começa a falar. Ele fala rápido. Sorridente e atencioso, ostenta orgulhoso diversas medalhas olímpicas penduradas no pescoço. Logo, engata uma explicação sobre o povo indígena Kuikuro do Mato Grosso (MT), desenhado no meio de um quadro pendurado na parede. A obra, de sua autoria, foi a vencedora do Concurso Nacional de Desenhos da 21ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2024 e está em exposição com destaque junto a outros nove trabalhos finalistas. Todos eles foram selecionados porque melhor representaram o tema deste ano: “Biomas do Brasil: Diversidade, Saberes e Tecnologias Sociais”.
Nesta quinta-feira (7), Jhonatan foi anunciado oficialmente o ganhador do concurso pela ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, o que lhe garantiu a viagem a Brasília para participar da 21ª SNCT, além de um tablet, fones de ouvido e um conjunto de 100 cartões postais com o seu desenho para que possa divulgar a sua obra na escola e na sua cidade. Em troca, ele presenteou a ministra com uma cópia do seu desenho assinada com dedicatória.
Também participaram da entrega da premiação o secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social do MCTI, Inácio Arruda, e a diretora do departamento de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica do MCTI, Juana Nunes.
O concurso, organizado pelo Museu Itinerante Ponto UFMG, em parceria com a Coordenação-Geral de Popularização da Ciência, Tecnologia e Inovação (CGPC/DEPDI/SEAPC), do MCTI é uma forma de estímulo à criatividade, à divulgação e à popularização da ciência. Ele é organizado pela SNCT desde 2016 para estudantes do 6º ao 9º ano dos ensinos fundamental e médio.
Desenho vencedor
Jhonatan é estudante do 3º ano da Escola Estadual Gonçalves Dias, em Ji-Paraná, Rondônia (RO). Esta foi a terceira vez que ele se inscreveu no concurso. Nos anos anteriores, não tinha sido nem finalista. “Uma coisa que eu tenho na mente é que se eu quero fazer algo eu não vou desistir. Eu vou fazer até eu chegar no resultado que eu vou ficar feliz”.
Persistência, inclusive, é uma de suas marcas. Medalhista de ouro da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), ele conta que, no mesmo ano em que ganhou, participou de uma outra competição, com metodologia diferente, em que tirou nota zero. O resultado só ativou ainda mais a chavinha da sua curiosidade. “Foi ali que percebi que eu tenho muito mais a aprender e conhecer. E eu quero aprender”, lembrou. Jhonatan também é medalhista de outras olimpíadas, como de astronomia.
E se o Jhonatan representa a máxima do “não desistir nunca”, o seu desenho também incorporou muito do que é a brasilidade, traduzida pela mente de um jovem estudante do norte do país. Depois de semanas de estudo sobre o tema, ele trouxe para a sua obra até mesmo o vira-lata caramelo, um ícone máximo da nação, além do chinelo de dedo (!) e, claro, a fauna e flora representadas pela onça-pintada, capivara, mico-leão, tucano, boto rosa, mandacaru, guaraná e caju.
Ao demonstrar também domínio de cores, formas e composição, o seu trabalho foi escolhido por meio de votação popular entre outros 606 inscritos, de 19 estados e 120 municípios. No total, mais de 6.132 pessoas votaram, sendo que o vencedor teve 37,12% dos votos, obtidos em todos os 26 estados e o Distrito Federal.
O poder da arte
“A ilustração, a arte, a imagem têm um poder muito forte de comunicação. E com um desenho você consegue conscientizar todas as idades, o velho e o novo, até quem não sabe ler, você consegue alcançar todo mundo. E em uma obra você pode se expressar tão fortemente, você pode expressar sua opinião, você pode até mesmo ir contra sistemas”, filosofou o jovem artista.
O menino inquieto, que já tocou violão, teclado, flauta, violino, fez uma ponta no teatro, além de tentar escrever música, editar pequenos livros e vender origami na escola, agora parece ter descoberto um caminho dentro da arte. “Com respeito à diversidade, aos povos originários e responsabilidade social”, destacou.
Porém, ele sabe que, assim como disse Guimarães Rosa, a vida aperta e afrouxa, sossega e depois desinquieta. “Não vindo de um lugar de privilégio, a gente tem que se esforçar e dar o nosso melhor. É algo que eu tenho em mente e que me mantém no caminho certo. Criar sempre foi algo que me moveu muito”, pontuou.
Com informações do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação*