Conheça a história de Egídio Shuade, um dos mais antigos moradores de Presidente Figueiredo
Por Liriel Lopes* |
Foto: Liriel Lopes |
Esse é seu Egídio Shuade, de 87 anos, natural do município de Feliz, Rio Grande do sul (RS). Na juventude, fez parte de um seminário dos Padres Jesuítas, onde estudou no final da década de 1962. Ainda como estudante, foi para o Mato Grosso Trabalhar com os indígenas em dois internatos.
Alguns anos depois, em 1969, Egídio Shuade criou uma organização com jovens que se preparavam para trabalhar com os indígenas, alcançando um rápido crescimento em menos de 2 anos e com mais de 100 jovens capacitados pela organização.
Em 1972, padre Egídio ajudou a criar outra organização a nível de igreja, que contaria com padres, irmãs e bispos. Já no ano de 1975, ajudou a criar a CPT, Comissão Pastoral de Terra, atuando por 3 anos no Mato Grosso, onde ficou ligado ao trabalho indigenista em nível nacional com a organização da operação Amazônia Nativa, que contava com a participação de jovens que procuravam localizar os rastros de povos indígenas, incentivando-os a assumirem sua cultura e a reconquistarem suas terras.
A mudança para Presidente Figueiredo
Ao longo dos anos, padre Egídio viajou o país em busca de localizar povos indígenas. Até que na década de 80, padre Egídio acabou se mudando para Presidente Figueiredo com o objetivo de trabalhar com os povos indígenas Waimiri Atroari, que na época tinham suas terras ocupadas pelos militares e pela Funai, que na época diziam que o povos indígenas eram terroristas, assassinos, mal feitores.
Mesmo sendo proibida pela ditadura militar, a organização de seu Egídio mantinha contatos clandestinos com os indígenas e as famílias, onde ficaram nesse trabalho até o final da ditadura militar, quando os próprios funcionários da Funai que o chamou para integrar o grupo de trabalho para que pudessem mudar a política indigenista dos povos Waimiri Atroari junto com as lideranças indígenas Waimiri Atroari.
“Na época a gente se reuniu dentro de uma aldeia no Sul de Roraima junto com os indígenas para planejar o que eles preferiam para uma nova perspectiva, e foi então que eles pediram para serem alfabetizados e nós nos oferecemos para alfabetiza-los com a língua deles, assim eles começaram a revelar tudo o que lhes aconteceu com a construção da BR 174 e o que a Funai, o governo e os militares fizeram contra eles,”, relata seu Egídio.
A construção da BR-174
Segundo dados da época, no começo da construção da BR-174, existiam cerca de 3.000 indígenas e ao final da construção da BR-174, esse número caiu para apenas 332 indígenas. E então os indígenas revelaram que foram bombardeados, apedrejados e mortos por militares.
Na época, Paraná Panema, Funai, Eletro Norte e os militares ficaram incomodados com a presença dos indígenas, o que acabou resultando na retirada deles do local e acabando com o trabalho de alfabetização. Com a criação da Comissão Nacional da Verdade (CNV), padre Egídio junto com outros da organização fizeram um relatório com dados revelados pelos indígenas que depois foram publicados no livro “A ditadura militar e o genocídio do povo Waimiri Atroari”, que em breve terá uma segunda edição.
*Do Projeto Jovens Comunicadores de Presidente Figueiredo.