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Se surpreenda com a história de Eyina Yamara, uma estrangeira em sua própria terra

Por Iasmim de Moraes Tavares* |
Foto: Iasmim de Moraes Tavares |

Quando olhamos para algumas pessoas não fazemos ideia da história que elas carregam, podemos deduzir pequenos detalhes, escutar retalhos aqui e ali, porém, toda a verdade dos acontecimentos da vida de cada um, não sabemos. A história de Eyina Urquiza Suárez de Yamara, 39 anos, recém chegada em Rio Preto da Eva, é repleta de acontecimentos marcantes.

Eyina é filha de um casal brasileiro, de Nair Francisca da Cunha e José da Cunha. Sendo a nona filha, ela nasceu em uma tribo indígena com a ajuda de um cacique já que a sua mãe era muito carente, o que significava que ir a um hospital era inviável e muito longe, ela nasceu sem ser registrada.

Drama familiar

Seu pai era muito violento e bebia com frequência, e dona Nair teve que deixr os filhos mais velhos aos cuidados do pai, por não saber como iria sustentar todos, e pegou suas duas filhas mais novas, Eyina e sua irmã menor, e subiu em um barco para ir embora. Nesse mesmo barco havia um casal boliviano que haviam recém iniciado um relacionamento, dona Nair resolveu dar uma de suas filhas para esse casal, por não ter como mantê-las e estar saindo de casa dos cuidados do marido violento.

Nesse ponto da história Eyina se tornou filha registrada do casal boliviano. Na vida, as pessoas tendem a repetir ciclos, tanto positivos quanto negativos, a mãe adotiva de Eyina veio de um lar conturbado, sendo também a sétima filha de uma família grande, era a mais velha e por muitas vezes espancada. Sem saber outra forma de educar, repetiu os mesmos maus tratos que recebeu em sua filha adotiva, sendo assim, Eyina sofreu muitos tipos de abusos físicos e mentais por parte da cuidadora.

O casal boliviano então tiveram filhos, e Eyina como a mais velha cuidava de toda a casa e de seus novos irmãos. Aos nove anos de idade, seus pais adotivos se separaram. Com o pensamento de que seria melhor tratada resolveu ficar com a avó, contrariando suas expectativas os maus tratos continuaram, contudo, já não eram físicos, mas verbais. “As palavras doem mais que uma surra, porque as palavras vão direto no seu coração, na sua mente. Uma surra você pega e a dor passa, mas as palavras ficam perturbando por toda uma vida”, ressalta Eyina.

Com treze anos, já em sua adolescência, as muitas palavras negativas geraram um grande impacto em sua vida, e as perguntas do motivo de sua existência e o porquê ela veio ao mundo para sofrer tanto. Vieram então as tentavas de suicídio, por se sentir sozinha e sem nenhum apoio o sentimento de já não aguentar mais a tomou, mas “Deus me resgatou”, ela confessa.

O ponto de virada

Na escola, ela conheceu um de seus irmãos de sangue, “eu havia me esquecido que tinha outros irmãos”, eles tiveram vergonha de se falar por um tempo, entretanto, quando finalmente criaram coragem conversaram e fizeram uma boa amizade. “Quando ouvi tudo o que meu irmão passou, me senti pequenininha, e deixei de reclamar um pouco”.

Um dia Eyina escutou na escola alguns colegas comentando sobre Deus, e ela nunca na vida havia escutado sobre isso, então ela se perguntou, quem é Deus? E o seu colega que tinha a mesma idade na época disse: “Deus é um ser superior a humanidade, ele mora no céu, mas ele escuta tudo o que nós falamos inclusive a mante das pessoas”.
Ao chegar em casa ela fez uma oração e disse: “Deus, se você realmente existe, me mostre o caminho pra te conhecer, porque tudo o que eu escutei do Senhor é bom, e eu quero isso, quero conhecer o Senhor e mudar de vida, já não quero me sentir assim”.

Ao ir para escola no dia seguinte recebeu um convite para ir à igreja. E algo, uma voz parecia dizer a ela “Aí estou eu”. Então ela foi e se converteu e houve outra grande luta em casa por conta da sua conversão e batismo. Aos dezessete anos ela saiu de casa e foi morar na igreja, virou uma estudante de teologia e se formou. Com dezoito se casou com Jacobo Yamara Rivero. Aos vinte teve sua primeira filhinha.

Um dos passos mais difíceis foi perdoar sua mãe adotiva, mas ao fazê-lo se livrou de um grande peso no coração, e orou por ela, que tempo depois também se converteu e mudou de vida.

Nova vida

Eyina então, com sua nova família mudou-se para o Brasil, em decorrência de muitas dificuldades financeiras ela começou a se perguntar o que tinha nas mãos que pudesse fazer para dar o sustento da sua família. Eyina é uma artista de mão cheia, e acabou por fazer uma associação com Andréia Freitas e juntas montaram uma pequena loja de artesanatos de vários tipos, situado na rua Governador Conrado Niemeyer (área do Balneário).

Mais uma benção veio para Eyina quando começou a trabalhar no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), como artesã, ajudando outras pessoas com seus vários talentos. Ela tem um agradecimento especial para Pauline Bernardo da Silva, que lutou para que ela conseguisse esse emprego, ela se encontra muito agradecida também a Luciana Santos (assistente social) ambas funcionárias do CAPS, e se emociona ao olhar para tudo o que Deus deu a ela e a abençoou por meio de várias pessoas.

Conhecida como dona Eyina, ela toca a vida de muitas pessoas com a sua arte e paciência ensinando a outras pessoas o que ela mais ama, que é a pintura. Vemos o seu amor pelo que faz em cada traço de suas obras, pois no fim, a arte não é apenas uma imagem, ela carrega mais de mil palavras.

 

*Do projeto Jovens Comunicadores de Rio Preto da Eva

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