Técnicos e times brasileiros fizeram a diferença no futebol do Catar
Por Agência Brasil |
Foto: Lisa Leutner / Reuters |
A famosa casa de apostas britânica William Hill, tem o Brasil como favorito: paga quatro vezes o valor apostado. Para se ter uma ideia, caso haja uma zebra e a Costa Rica levante a taça, a casa pagará 500 vezes o valor da aposta. Além dos ingleses neste caso, há um outro país que sempre apostou no futebol brasileiro desde muito tempo: é o Catar, anfitrião da Copa do Mundo que começa ao meio-dia deste domingo (20).
Filiado à Fifa em 1972, o Catar apostou que, levando para o pequeno país do Oriente Médio treinadores brasileiros, iria conseguir desenvolver o futebol local e, quem sabe, conseguir passar pelas Eliminatórias Asiáticas (algo que até hoje nunca aconteceu).
O nome do treinador Evaristo de Macedo está intimamente ligado à Seleção do Catar. Em 1980, os emires tiraram Evaristo do Santa Cruz (PE) e o levaram para Doha, inicialmente pagando US$ 150 mil de luvas e um salário de US$ 17 mil. Valores que, certamente, foram multiplicados com o passar dos anos. Evaristo levou a seleção de juniores do Catar ao vice-campeonato mundial da categoria em 1981, na Austrália. Na ocasião, a desconhecida equipe bateu a Polônia (1 a 0), eliminou o Brasil nas quartas-de-final (3 a 2) e tirou a Inglaterra (2 a 1) nas semifinais, até perder para a Alemanha Ocidental na finalíssima por 4 a 0. Evaristo também comandou a seleção local nas Olimpíadas de Los Angeles 1984 e Barcelona 1992.
“Na minha época, os jogadores eram só os catares, o futebol estava começando, nós tínhamos dois estádios, um pequenininho e um maior um pouco. Eu acho que o Catar foi muito bom pra mim, esportivamente e financeiramente também, porque lá a gente tinha melhores condições para trabalhar. Eu não tenho queixa de nada. Tive bons resultados, deixei lá uma amizade muito grande e eles têm um carinho muito grande por mim”, disse Macedo em entrevista ao quadro Setentões do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil.
Mas, outros brasileiros também foram levados para desenvolver o esporte local, mostrando que “o país do futebol” foi, por muitos anos, a principal aposta dos emires: Dino Sani, Procópio Cardoso, Cabralzinho, Ivo Wortmann, Sebastião Lapola, Zé Mário, Paulo Campos, Sebastião Lazaroni e Paulo Autuori.
Isso fez com que os catares viessem fazer temporadas no Brasil, realizando amistosos contra, pelo menos, dezoito times ao longo dos anos (há dúvidas se os amistosos contra a Portuguesa da Ilha do Governador e contra o Rubro de Araruama, agendados, foram realmente disputados em 1980). Além disso, clubes brasileiros foram bem recebidos em Doha, a começar pelo Santos de Pelé, um pioneiro desbravador, recebido com pompa em fevereiro de 1973. Na ocasião, o Santos bateu o time do Al-Ahli Sports Club (não confundir com o famoso clube egípcio Al-Ahly) por 3 a 0.
O futebol era tão incipiente no Catar que, durante uma longa temporada no Rio de Janeiro em 1980, a seleção dirigida por Evaristo de Macedo chegou a perder por 7 a 0 para o mediano time do Campo Grande e por 4 a 0 para o Madureira. E qual a impressão que deixaram por aqui?
“Os do Catar são indisciplinados, descorteses e adoram catimbar em campo. O jogador Magid foi eleito como o mais atrevido do seu grupo. Em jogo, quis arrancar o cartão vermelho das mãos do árbitro Paulo Roberto Chaves”, escreveu à época o cronista Milton Salles.
Nos anos 80 e 90 era bem mais comum amistosos entre seleções nacionais e clubes e nenhum outro time enfrentou tanto a seleção do Catar quanto o Bangu, nos áureos tempos do bicheiro Castor de Andrade: foram dois amistosos em Doha em 1985 (quando o Catar era dirigido por Dino Sani), dois amistosos no Rio em 1988 (quando Procópio Cardoso comandava o Catar), dois jogos em Doha em 1989 (novamente Dino Sani estava no comando do Catar) e três amistosos em Doha em 1992 [quando Sebastião Lapola assumira a seleção asiática].
“Em 1992, foram três jogos, mas era para ser apenas dois. O Rubinho (Rubens Lopes, atual presidente da Federação do Rio), que era o nosso médico, falou sobre um terceiro jogo e que teria mais uma grana. Lógico que fomos para o jogo. Lembro muito dos estádios espetaculares já naquela época e a seleção deles não era boba não, tinha jogadores muito rápidos” – lembrou o ex-jogador do Bangu, Marcelo Rodrigues, que participou daquela excursão.
Além do Bangu, o Catar levou times tradicionais como o Atlético Mineiro, o Internacional e o Fluminense para se apresentarem em Doha; enquanto que, nas temporadas que fez aqui no Brasil, os catares jogaram contra o Manufatora de Niterói, o Petropolitano e o Entrerriense.
A era dos amistosos entre clubes e países terminou. A seleção, atualmente comandada pelo espanhol Félix Sánchez, esteve no Brasil em 2019 para participar da Copa América, treinou no CT do Fluminense, mas não enfrentou nenhum time local.
O último jogo entre o Catar e um time brasileiro ocorreu há mais de 20 anos, contra o Palmeiras, em 1998, e a equipe de Luiz Felipe Scolari venceu por 2 a 0.
O Catar abre a Copa do Mundo neste domingo (20) em embate contra a seleção do Equador, 13h (horário de Brasília), em jogo válido pelo Grupo A.