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Um passeio pela Comunidade do Tumbira: Do extrativismo à sustentabilidade

Por Bruce Andrade |
Fotos: Bruce Andrade |

O conceito de comunidade ribeirinha ganha um novo sentido quando nos referimos à Comunidade do Tumbira, localizada a uma hora e meia, com trajeto feito de barco partindo de Manaus.  

Pertencente à Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro, Tumbira é um modelo de como a boa gestão e a execução de projetos sustentáveis podem gerar resultados positivos, beneficiando seus moradores em diversas áreas, além de proporcionar geração de renda e ainda manter floresta em pé. 

Com 43 famílias e cerca de 140 pessoas morando na comunidade, Tumbira tem no turismo de base comunitária, artesanato, pesca e comércio as suas principais fontes de renda.

Ficou interessado(a) em saber mais sobre a Comunidade do Tumbira? Então embarque com o Portal No Ar na história dessa comunidade, desde as primeiras famílias que habitaram a região e todo o período de transição até ela se tornar um modelo de comunidade auto sustentável. 

Os primeiros anos de Tumbira

De origem Tupi-guarani, Tumbira é uma palavra que define um inseto, conhecido como “tunga”, com nome científico de Tunga Penetrans. Começou a ser povoada há cerca de 86 anos, quando a família Antérios desembarcou na localidade, em 1936. 21 anos depois, foi a vez dos Macedos também aportarem por lá. Já em 1967, a última das três principais famílias da comunidade também chegou. Trata-se da família Garrido, a mais influente de Tumbira até hoje.

“Quando viemos morar aqui, o meu pai, José Garrido, filho de um portugês com uma indígena foi quem desenvolveu a economia da comunidade, pois naquela época não tinha nada e ele através de um estaleiro onde construía barcos, gerou emprego e renda para dezenas de trabalhadores de Tumbira e outras comunidades vizinhas”, relembra Vera Lúcia Garrido, filha do seu Garrido e atualmente professora concursada da escola da comunidade.

Tendo a extração de madeira e a construção naval como principal fonte de renda, Tumbira logo se tornou referência para outras comunidades devido à grande oferta de emprego Dessa forma, foi se desenvolvendo e, em pouco tempo, novas pessoas se instalaram na comunidade e novas famílias acabaram foram se formando.

Apesar de estar localizada às margens do Rio Negro, a 64km de Manaus, a comunidade do Tumbira foi aos poucos ganhando forma, muito em função da construção da primeira escola da comunidade (a Escola Municipal Santa Rita), da igreja em homenagem a Padroeira Nossa Senhora do Socorro e do cento social, locais que aproximaram mais as famílias que viviam espalhadas pela região.

“Meu pai sempre foi uma pessoa muito visionária. Ele tinha essa visão de que a comunidade um dia iria crescer e se desenvolver, por isso ele mandou todos os filhos estudarem para quando a comunidade evoluísse, a gente estivesse preparado para essas todas mudanças”, relembrou Vera.

Um novo modelo de sustentabilidade

Após mais de 30 anos ininterruptos trabalhando na extração de madeira, seu José Garrido resolve mudar de ramo e constrói uma pousada para fomentar o turismo local. Em pouco tempo, o novo empreendimento logo se tornou uma das principais fontes de renda da comunidade.

No ano de 2006, os moradores do Tumbira resolveram fazer uma reivindicação ao Governo do Estado, exigindo a construção de uma escola que atendesse os jovens da comunidade, com a oferta do Ensino Médio.

A demanda surtiu efeito, mas foi além. Em 2008, junto com o surgimento da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), começou o processo de transformação de Tumbira em uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável formada em conjunto com outras 19 comunidades.

Já em 25 de março de 2010, foi criada a Escola Estadual Thomas Eugene Lovejoy para servir como polo e atender essas comunidades. Com isso, cerca de 80 trabalhadores foram contratados para erguer uma nova escola na comunidade. Em paralelo, foi construído também um restaurante para fornecer alimentação a todos esses trabalhadores. 

A partir daí a comunidade foi se desenvolvendo de forma vertiginosa, com a instalação do poço artesiano e a chegada da energia elétrica, por meio do projeto do Governo Federal, o Luz para Todos. Junto com essas melhorias, Tumbira foi contemplada também, com a instalação do sistema solar e disponibilização de wi-fi na comunidade. 

Desse período em diante, a FAS tem contribuído com o processo de conscientização, capacitação, mediação e investimento em infraestrutura da comunidade do Tumbira, o que permitiu o fortalecimento do turismo na região. 

As mudanças físicas da comunidade junto com as novas construções alteraram a vida dos moradores do Tumbira.

Atuação da FAS

O desenvolvimento da comunidade do Tumbira está diretamente ligado à FAS. Responsável por implementar ações que visam o crescimento econômico, educacional, cultural, turístico e de infraestrutura física e tecnológica, a ONG desenvolve atualmente na comunidade, diversas atividades que englobam áreas como educação, esportes e saúde.

Na área educacional, por meio do Programa de Educação para a Sustentabilidade (PES), são realizados diversos projetos como: Incentivo à Leitura e à Escrita (Incenturita),  Intercâmbio de Saberes, Jovens Empreendedores, Práticas Agroecológicas, Repórteres da Floresta e o Programa de Desenvolvimento Integral da Criança e do Adolescente Ribeirinho da Amazônia (Dicara).

“Nós atendemos estudantes do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental Anos Iniciais e também desenvolvemos atividades da educação ribeirinha com os jovens tanto da comunidade do Tumbira  quanto de localidades próximas. Faz parte do nosso plano de ensino, o Trabalho desenvolvido a partir de 3 eixos: prática agroecológica, educomunicação e leitura”, Explicou Zelia Barroso, pedagoga e coordenadora do projeto educacional da FAS.

Os esportes na Comunidade do Tumbira também são destaques nas ações da FAS. Recentemente, a instituição lançou o projeto-piloto ‘Deixa a Mana Jogar’, de incentivo ao esporte em comunidades ribeirinhas. O foco da iniciativa é desenvolver o empoderamento feminino por meio do esporte, trazendo conceitos de igualdade de gênero com oficinas práticas e teóricas, mas os meninos também participam das ações. As modalidades oferecidas são futebol e voleibol.

Voluntariado Bemol

Realizado em parceria com a FAS, o programa de voluntariado da Bemol tem como objetivo fazer com que os colaboradores da empresa dediquem uma parte de seu tempo para o fomento de ações em prol da comunidade ribeirinhas e, com isso, deixem um legado de sustentabilidade. 

Dentre essas ações, destacam-se a realização de oficinas de leitura e escrita e educomunicação, onde os moradores das comunidades ribeirinhas podem desenvolver uma série de habilidades, por meio da prática de fotografia, produção textual e, assim, possam atuar como porta-vozes de suas comunidades.

Criação de conteúdo local

Apresentar as belezas e atrativos de uma comunidade é fundamental para que mais pessoas a nível regional, nacional e internacional desenvolvam o interesse em conhecer o local.

Na Comunidade do Tumbira, essa dinâmica ficou inativa por uns 4 anos, até que os jovens Lucas Macedo, 18 anos, e Maycon Oliveira, 19 anos, resolveram assumir a responsabilidade de administrar a conta do instagram relacionada à comunidade.

“Em uma conversa com minha tia, ela relatou sobre a falta de informação da comunidade e sobre essa conta que estava parada. Então a partir disso, ela deu a ideia da gente dar continuidade a esse projeto maravilhoso que é postar sobre a nossa comunidade”, relatou Lucas que, além do instagram da Comunidade do Tumbira, é responsável também pelas contas de outros empreendimentos da localidade.

Segundo Maycon, as postagens da página são baseadas em um cronograma elaborado pela dupla. 

“Nós temos um cronograma que funciona diariamente, então nós tentamos postar um conteúdo diferente, mas sem fugir do foco principal que é mostrar a natureza e a nossa comunidade”, explicou Maycon.

“Viver em Tumbira é uma experiência maravilhosa. Eu aproveito ao máximo o que a comunidade tem a oferecer para nós enquanto jovens, tanto em relação a disponibilização de cursos quanto lazer. Aqui, nós costumamos usufruir da nossa natureza, como o banho de rio, as trilhas, além do futebol que é praticado pelos moradores da comunidade, de todas as idades e tipos”, concluiu Lucas.

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