Artesãos de Figueiredo transformam resíduos em peças de alto valor com identidade local
Por Redação |
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Uma apresentação em slides na sede da Prefeitura de Presidente Figueiredo, interior do Amazonas, exibe trabalhos manuais muito simples, sem qualquer apelo cultural nem atenção ao que o mercado demanda. Enquanto espectadores, os autores das peças não negam as condições rudimentares das produções. “Que horror”, exclamou uma artesã. Essas imagens, contudo, eram registros do “antes”, de um passado que parecia distante. Isso porque a projeção logo exibiu o “depois”: artesanatos com fino acabamento, produzidos com fibra de bananeira, madeiras de reaproveitamento, cacho de açaizeiro e casca de cupuaçu, todos padronizados com referências à identidade do município. Um salto na qualidade produtiva, na autoestima dos artesãos e no potencial econômico de Figueiredo.
A reunião na qual os artistas manuais testemunharam a evolução de seus trabalhos ocorreu no dia 23 de novembro. Era a última etapa de um plano de ação promovido pelo Sebrae Amazonas em parceria com a Prefeitura local. Um trabalho de seis meses.
Tudo nasceu de um diagnóstico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas quanto às condições de trabalho dos artesãos do município, bem como a qualidade dos trabalhos e a capacidade de mercado. Então foi iniciada uma consultoria de artesanato para levantamento das potencialidades da região, através do programa Reimaginando a Manualidade da Amazônia (REMA), um seminário que já foi promovido em cidades como Parintins, Novo Airão e Maués.
“É um resgate da autoestima do nosso empreendedor, tanto da parte do segmento do turismo como do artesanato”, destacou o secretário municipal de Turismo Empreendedorismo e Comércio, Edvan Carias. “São seis meses de um trabalho para construção de uma identidade através do artesanato”.
O novo conceito nasce de materiais antes rejeitados, vide cascas de frutos, pó de serragem e fibra de árvores e plantas. Pelas mãos de artesãos desafiados a inovar com criatividade, eles viram bolsas, brincos, itens de decoração e adereços, todos agora com maior valor agregado. A sustentabilidade também está presente nas cores e texturas, produzidas com a tinta extraída do açafrão, repolho roxo e colorau.
Nas produções, referências ao Galo-da-serra – ave de cor laranja inconfundível –, às cachoeiras e outros elementos da natureza abundante de Presidente Figueiredo. Francineia Lameira, 60, usa grafismos do povo indígena Waimiri-Atroari em decorações para casa, feitas com cacho de açaí. “Antes a gente tocava fogo nessas coisas. Hoje, não mais”, observa.
Edvaldo da Silva, 42, trabalhou com marcenaria desde a infância. Ajudou o pai e desenvolveu habilidades também com mecânica e lanternagem de veículos, mas a pandemia de Covid-19 trouxe uma forte crise para o negócio. “Aí eu voltei para marcenaria, mas comecei o artesanato”. Ele passou a produzir petisqueiras, farinheiras e até taças de madeira, usando também fibra de bananeira. “Hoje, eu vivo disso”, revelou.
Francineia, Edvaldo e outros oito artesãos estão aprimorando as técnicas de produção enquanto integrantes do projeto Proa da Inovação. Eles são orientados e inspirados a inovar por consultores e artesãos beneficiados pela iniciativa. “No REMA, eles conhecem as atividades do Sebrae, benefícios de abrir um MEI, por exemplo. De ter uma carteira do artesão. E os artesãos convidados falam justamente sobre como eles eram antes das atividades e onde estão hoje”, resume o consultor André Barbosa.
Analista de atendimento do Sebrae Amazonas, Márcia Lima destaca o estabelecimento de uma identidade pelos que moram, produzem e vivem economicamente de Figueiredo. “Conseguimos levá-los ao encontro de suas competências e potenciais. Ouvimos muitas vezes que eles não seriam capazes de realizar as tarefas que eles seriam capazes”, disse.
Mais confiantes e dispostos em aperfeiçoar a técnica de criação com as próprias mãos, os artesãos aguardam a articulação de uma rodada de negócios entre eles e empresários da hotelaria e donos de restaurantes em Presidente Figueiredo. Uma parceria que promete padronizar a identidade local no turismo, segmento mais promissor do município.