Lendas e mitos de Presidente Figueiredo: o fascínio das histórias que resistem ao tempo
Por Rodrigo Oliveira*|
Fotos: Ricardo Oliveira/Sema|
Antônio Amador de Oliveira, um morador de longa data de Presidente Figueiredo, aos 58 anos, é um verdadeiro guardião das lendas urbanas da região. Pesquisador e historiador no centro cultural Zé Amador, Antônio mergulha nas ricas tradições locais, compartilhando conosco algumas das histórias mais marcantes que permeiam a cultura desse lugar único.
Segundo Antônio, a festa do cupuaçu é um dos temas centrais das lendas e contos locais. Além disso, a história da Caverna do Maroaga é uma das mais emblemáticas. O cacique da tribo dos Waimiri-Atroari, que protagonizaram eventos marcantes durante a construção da rodovia BR-174 na década de 1970, retrata a resistência da aldeia à invasão dos militares da época. A caverna, com mais de 400 metros de túneis e galerias, é apontada como o local utilizado pelos indígenas, liderados por Maroaga, para se esconderem e planejarem seus ataques, inclusive um grande e audacioso ataque ao acampamento militar. Os Waimiri-Atroari ficaram conhecidos por sua feroz resistência, sendo descritos como agressivos. Segundo relatos, após seus ataques, eles desmembravam suas vítimas e espalhavam os pedaços entre as árvores, gerando pavor e marcando a memória daqueles que testemunharam ou ouviram falar desses eventos.
Uma das lendas mais intrigantes do município é a da Matinta Pereira, uma figura que transita entre o mundo humano e o animal, sendo uma personagem central do folclore brasileiro, especialmente na região amazônica. Durante o dia, ela se apresenta como uma mulher idosa, frequentemente associada à imagem de uma bruxa, enquanto à noite se transforma em uma ave misteriosa.
Na lenda, Matinta Perera pode assumir a forma de diferentes aves, como o martim-pererê ou a coruja-rasga-mortalha, conhecida por seu canto semelhante a um tecido sendo rasgado, o que lhe rendeu esse nome peculiar. A coruja-rasga-mortalha é vista como um presságio de morte em muitas culturas brasileiras, anunciando o falecimento iminente de um ente querido. Essa associação entre a ave e a morte adiciona um elemento sombrio à lenda de Matinta Perera, tornando-a ainda mais envolvente e misteriosa. Antônio ressalta que essas histórias são passadas de geração em geração, algumas se adaptando ao contexto local, mas sempre mantendo viva a chama da imaginação e da cultura popular.
A cidade de Presidente Figueiredo é um verdadeiro tesouro de lendas e mitos, e a cada dia surgem novas histórias, enriquecendo ainda mais a tradição oral do local.
*Do Projeto Jovens Comunicadores de Presidente Figueiredo