Estiagem e seus impactos em Parintins: desafios e adaptações para o enfrentamento da situação

Por João Vitor Costa*|
Foto: João Vitor Costa |

Parintins é uma cidade diretamente conectada aos ciclos da natureza. As águas dos rios são vitais para o transporte, economia, abastecimento e vida cotidiana dos seus moradores. Porém, nos períodos de estiagem, esses ciclos podem ser severamente interrompidos, causando desafios que afetam desde a produção agrícola até a infraestrutura da cidade.

Impactos na Navegação e Transporte

Uma das consequências mais visíveis da estiagem em Parintins é a diminuição drástica no nível dos rios, como o Amazonas e o Paraná do Ramos, que circundam a ilha. Com os rios mais rasos, a navegação, principal meio de transporte de pessoas e mercadorias, se torna complicada. Em alguns pontos, barcos podem ficar encalhados, prejudicando o abastecimento da cidade e dificultando o transporte de produtos, como alimentos e insumos.

Isso afeta diretamente o comércio local, já que muitos produtos chegam à cidade via fluvial. Além disso, o transporte para áreas rurais e comunidades ribeirinhas também se torna desafiador, isolando algumas regiões da cidade.

“Quando a seca chega, a preocupação aumenta. Tem dias que a gente anda horas até achar um lugar pra tirar água. As plantas no quintal não aguentam e os bichos ficam sem pasto. O que nos sustenta é a força e a fé que logo vai chover de novo”, relata o morador José Silva – Agricultor da zona rural de Parintins, que comentou sobre as dificuldades com a seca e o pasto para os animais.

Agricultura e Segurança Alimentar

A agricultura em Parintins, especialmente nas zonas rurais, é bastante dependente do ciclo natural de cheias e vazantes. Com a estiagem prolongada, muitas plantações, que dependem da irrigação natural dos rios, sofrem perdas. A produção de mandioca, milho e frutas, que são base para a alimentação local, pode ser prejudicada, impactando diretamente a segurança alimentar de muitas famílias.

Além disso, a pesca, outra importante atividade econômica da região, também é afetada. Com a redução do volume de água, os peixes tendem a se concentrar em áreas menores, tornando a pesca mais difícil e reduzindo a oferta de pescado, o que também eleva o preço dos produtos.

“Nessa época de estiagem, a vida aqui muda muito. O barco que a gente usa pra ir na cidade tem que fazer volta porque os igarapés estão secos. A roça sofre também, sem água pra irrigar, e aí o feijão e a mandioca não crescem como antes”, comenta Maria Souza – Moradora ribeirinha que relatou os desafios com o transporte e a irrigação da roça durante a estiagem.

Saúde e Abastecimento de Água

Com a seca, a qualidade da água disponível para consumo se deteriora. Muitos moradores de Parintins dependem de poços ou da captação de água dos rios para o abastecimento. Com o nível dos rios baixo, aumenta a concentração de poluentes e resíduos, tornando a água imprópria para o consumo sem tratamento adequado. Isso pode levar ao aumento de doenças como diarreias e outras doenças de veiculação hídrica, principalmente em áreas mais vulneráveis.

Além disso, em alguns bairros, a estiagem pode impactar diretamente o abastecimento de água potável, forçando os moradores a buscar alternativas, como a compra de água mineral, o que gera mais despesas.

Medidas e Adaptações

Frente aos desafios impostos pela estiagem, a população de Parintins tem adotado diversas estratégias de adaptação. Entre elas, a busca por tecnologias de captação e armazenamento de água da chuva tem se mostrado uma solução viável para o consumo doméstico. Algumas comunidades também têm investido em bombas de irrigação para suas plantações, visando mitigar as perdas agrícolas.

“Com os rios baixos, a gente vê os barcos encalhando e as roças sofrendo. A água pra beber e cuidar dos animais fica cada vez mais difícil. Mas seguimos fazendo o que podemos, esperando pela chuva”, finaliza Antônio Costa, morador ribeirinho e pescador da região do mocambo, que falou sobre a navegação complicada e a escassez de água para consumo.

*Do projeto Jovens Comunicadores de Parintins