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Conheça Adolfo Tapaiuna: jovem artista indígena que realiza grafismo corporal em Parintins

Por Bruce Andrade |
Fotos: Acervo Pessoal de Adolfo Tapaiuna |

A partir desta terça-feira (20), quem passar em frente à Catedral de Nossa Senhora do Carmo em Parintins, poderá se deparar com um jovem artista, chamado Adolfo Tapaiuna. Até o término do 56º Festival Folclórico de Parintins, ele estará realizando no local, grafismos corporais feitos com tinta de jenipapo 100% natural, extraída do jenipapo verde, arte tradicional do povo indígena Sateré-Mawé.

Natural do município de Barreirinha/AM, Tapaiuna carrega em seu DNA não apenas os traços genéticos dos povos indígenas, mas também o dom artístico e a luta por maior dignidade, herdados principalmente de sua mãe, liderança indígena em causas sociais no baixo Amazonas.

Cursando atualmente o terceiro período da faculdade de Design pela Universidade do Estado do Amazonas – Campus Parintins, Tapaiuna enxerga no grafismo corporal não apenas uma arte, mas sim, uma forma de manter viva a rica cultura de seu povo.

“Por conta de nossas vivências, a gente a passa entender que nossa história é muito rica e muito bonita. Enquanto jovem indígena, acho importante contar a minha vivência, quem eu sou. Embora o Design na minha vida seja uma coisa nova, as histórias dos meus antepassados sempre estiveram aí, como por exemplo no grafismo em barro”.

Os primeiros passos

Com uma trajetória repleta de obstáculos, Tapauina saiu muito jovem de sua cidade para a tentar a vida em Manaus. E não demorou muito tempo para sentir na pele o quão difícil é se manter sozinho na capital. Mas foi justamente nessa época em que ele descobriu que a sua história de vida poderia ser valorizada e fazer a diferença na vida de outras pessoas.

“O grafismo corporal surgiu na minha vida ainda na infância, através da minha avó, depois com a minha mãe, a minha irmã, até que chegou a mim. Eu sempre fui uma pessoa curiosa, então acabei aprendendo essa arte ancestral. Quando ainda estava em Manaus, em todos os eventos que eu participava eu levava a tinta de jenipapo para fazer pinturas corporais, mas eu não apenas fazia isso, eu também contava sobre a história do jenipapo para que as pessoas pudessem entender o que é a tinta do jenipapo, o que ela significa para os indígenas e como ela pode ser usada para proteger o corpo”.

Segundo Tapaiuna, mais do que a pintura em si, o processo é o que mais lhe fascina.

“A tinta de jenipapo é uma tinta que a gente faz com tanto carinho, tanto amor, é uma tinta que a gente tira da árvore, rala e no final chega a pele da pessoa. Além disso, é muito prazeroso é a gente ter esse contato com a pessoa, dela entender o que é o grafismo corporal. Eu explico que não se trata apenas de linhas, traços, pois tem toda uma história por trás. E manter a oralidade também é importante, explicar que durante 10 a 15 dias enquanto a tinta estiver na pele, a pessoa ficará protegida”.

De Manaus à Parintins

Após uma breve temporada em Manaus, Tapaiuna resolve embarcar rumo à Parintins em busca da realização de um sonho: cursar a faculdade de Design pela UEA/Parintins. Apesar dos desafios oriundos da área escolhida, não estava em seus planos desistir sem tentar.

“Antes de cursar Design eu pensei várias vezes se ia valer a pena, porque não tinha ninguém nessa área, e eu como um jovem indígena, me inserir nesse mercado também é muito difícil. No fim das contas, resolvi acreditar no meu sonho, pois pra mim, sonhos são muito tangíveis”.

Por conta do curso, Tapaiuna acabou tendo mais afinidade com a ilustração digital, onde se aperfeiçoa diariamente desenhando traços que formam desenhos que de alguma maneira possam ser incorporados ao grafismo corporal e que puxem mais para o lado cosmológico digital.

“Eu penso que no campo do Design, a questão indígena sempre foi presente. Entender que as histórias dos povos indígenas são muito bonitas e valorizar essa cultuara a partir de vivências reais, agrega muito mais valor ao meu trabalho”.

Assim como um equilibrista, Tapaiuna tentar conciliar os conhecimentos adquiridos na academia com a cultura de seu povo para formar não só a sua essência como artista, mas também para moldar o seu presente e futuro.

“Enquanto estudante, eu pretendo levar todo o conhecimento digital para o meu povo, tô me graduando para falar que o trabalho indígena é muito lindo e que as novas gerações de indígenas possam valorizar as histórias contadas pelos avós, pelos tios  são bonitas e pegar tudo aquilo e se apropriar para divulgar o trabalho indígena”.

Próximos passos

Após se formar na faculdade, Tapaiuna já tem um objetivo de vida bem definido: voltar para o município de Barreirinha e ajudar outros indígenas de sua tribo a também realizarem os seus sonhos.

“Meu objetivo é ajudar com projetos para que as pessoas possam divulgar os trabalhos delas, porque não é só na área do grafismo que o povo indígena é rico, mas sim no artesanato, na pintura, na música, nas histórias, dentre outras. Cada povo tem sua história, cada povo tem seu diálogo”.

Ao servir de inspiração para inúmeros outros indígenas de sua tribo, Tapaiuna mostra que, a realidade é uma amiga que a qualquer momento pode bater na porta trazendo a realidade daquilo que antes parecia apenas um sonho.

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