Idelfonso da Costa: o artesão de Careiro que transforma resíduos em arte sustentável
Por Ramilly Ribeiro* |
Foto: Arquivo Pessoal |
Idelfonso Cavalcante da Costa construiu uma carreira notável em Careiro como artesão autodidata, criando peças únicas a partir de troncos descartados. Com cinco anos de trajetória no artesanato, ele encontrou na natureza sua maior fonte de inspiração e promove sustentabilidade ao reaproveitar materiais que seriam descartados.
A infância de Idelfonso foi marcada pela imersão na natureza, onde desenvolveu uma sensibilidade artística ao observar a riqueza da fauna e flora ao seu redor. No entanto, dificuldades financeiras e responsabilidades familiares adiaram seu mergulho no mundo das artes. Somente na fase adulta, ao alcançar maior estabilidade, Idelfonso se dedicou integralmente ao sonho de criar esculturas.
Seu trabalho se destaca pela abordagem sustentável. Ao utilizar resíduos de quintal, como troncos de árvores frutíferas, Idelfonso dá nova vida a materiais que seriam descartados. Essa prática não apenas preserva o meio ambiente, mas também agrega valor ecológico às suas peças, chamando a atenção no cenário artístico nacional.
“Minha arte não agride a natureza. Trabalho com resíduos que seriam descartados. É um resgate do que iria para o lixo, transformando-os em esculturas que valorizam a essência da Amazônia”, explica o artesão.
Para Idelfonso, a escultura em madeira é a forma mais pura de arte. Ao contrário de técnicas como a pintura, que podem ser facilmente reproduzidas, a escultura exige que o artista revele o que já está implícito no material. “Você precisa ver o que está dentro daquele tronco e esculpir a partir dessa visão interior. É um processo que vem de dentro para fora, uma verdadeira expressão do que está na sua mente e no seu coração.”
Esse processo de criação pode levar cerca de um mês, dependendo da complexidade da peça. Entre suas obras mais marcantes, Idelfonso destaca uma escultura abstrata que integra conceitos de física, matemática e até leis da gravidade. Avaliada em R$ 3 mil, essa obra é uma expressão do que o artista vê além do mundo físico, misturando ciência e arte em uma única peça.
Apesar de seu sucesso e reconhecimento, Idelfonso enfrenta desafios comuns a muitos artesãos brasileiros: a falta de espaços culturais para expor seu trabalho e a baixa valorização da arte local. “Aqui na nossa cidade, não temos museus ou casas de artistas. Muitas vezes, o trabalho do artesão fica escondido em sua própria casa”, lamenta.
Idelfonso acredita que o futuro do artesanato depende de iniciativas voltadas à formação de jovens artistas. Ele defende a criação de oficinas e espaços de aprendizado onde o conhecimento dos mais experientes possa ser transmitido às novas gerações, garantindo a continuidade dessa arte ancestral. “Se não houver incentivo para a formação dos jovens, nosso conhecimento se perderá. Precisamos de locais onde possamos ensinar e compartilhar o que sabemos”.
Mesmo diante das dificuldades, Idelfonso permanece otimista e continua criando com a certeza de que ainda há muito a ser explorado na relação entre a arte e a sustentabilidade. “Nossa criatividade não tem limites. Acredito que ainda vou criar peças que farão grande diferença no cenário do artesanato, mostrando que podemos transformar ideias abstratas em realidade”.
Com uma visão profunda sobre a conexão entre o homem e a natureza, Idelfonso Cavalcante da Costa é um exemplo vivo de como a arte pode embelezar o mundo, mas também conscientizar sobre a importância da sustentabilidade e da valorização das tradições culturais.
*Do Projeto Jovens Comunicadores de Careiro