Comunidade da Costa do Barroso, em Manaquiri: modo de vida e desafios na estiagem
Por Maria Lucila* |
Fotos: Gisele Nascimento |
A comunidade da Costa do Barroso, localizada no sentido contrário (baixo) entre as comunidades do Barroso e da Ilha Barroso, na zona rural do município de Manaquiri, é conhecida pela sua capacidade de se adaptar e prevalecer perante os desafios vividos pela população.
Atualmente, o trajeto para chegar ao local por meio de transporte fluvial, partindo de Manaquiri, demora aproximadamente entre 1h e 1h30h devido à estiagem.
Modo de vida
Povoada por cerca de 80 famílias, os moradores da comunidade Costa do Barroso, em meio a seca, têm como principal renda o plantio e venda de batatas, abóboras, melancias e verduras, como cheiro verde e cebolinha, exportando suas hortaliças para a sede do município de Manaquiri e Manaus. Em época de cheia, a principal fonte de renda se torna a pesca de peixes para consumo e venda.
Lendas
Em comunidades isoladas, as lendas e história dos antigos marcam gerações e causam entretenimento para visitantes. Na comunidade Costa do Barroso não é diferente, os moradores comentam sobre duas lendas muito conhecidas no local e são devotos na crença de que até hoje existem diversos mistérios envolvendo o rio Amazonas: o boto e a cobra-grande.
Acredita-se que, em horários específicos como 12h e 18h, é proibido tomar banho no rio, pois são horários sagrados onde os mais diversos animais aquáticos estão em busca de comidas.
Tendo isso em mente, os moradores afirmam ter extremo cuidado nesses horários, principalmente, quando se avista um Boto. Pois os Botos são animais traiçoeiros e crer-se que, além de virar homem, eles levam pessoas para o fundo do rio onde existe uma cidade muito bonita em que não se pode tocar e nem comer nada do local. Se tocar ou comer algo ficaria presa para sempre na cidade subaquática.
Os moradores da comunidade Costa do Barroso também acreditam que, no fundo do rio Amazonas, vive uma cobra gigante, capaz de mudar o curso dos rios, destruir cidades e quando se move, faz a terra cair. Assim, explicando tremores e algumas erosões gigantes de terra.
Desafios da estiagem
É notório que a severa estiagem de 2024 cria consequências graves, principalmente para população ribeirinha.
Assim, muitos moradores da comunidade Costa do Barroso levam seu flutuante para a parte mais larga do rio, que faz acesso ao Manacapuru e Bela vista, e outros continuam no Canal.
Em busca de água potável, 13 famílias da comunidade cavaram cacimbas, puxando-a para casa com canos.
A moradora Gisele Nascimento da silva, 22 anos, comenta sobre as dificuldades com o abastecimento de água e locomoção dos moradores.
“A água para uns está muito complicado. Pois, tem que pegar lá no rio e a boca que passa água já está se fechando.
Precisaríamos de um poço pra atender os moradores, pois pra alguns tá bem difícil”, explica. “Está muito seco, os flutuantes estão quase todos em terra. Tem uma certa parte que é preciso sair da canoa e empurrar para chegar nos locais”.
Gisele também comenta que a Escola Municipal Rui Barbosa está fechada por conta da seca extrema. “Com essa seca não tem como haver aula, é muito difícil para os alunos chegarem até a escola”.
*Do Projeto Jovens Comunicadores de Manaquiri