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De origem indígena e nordestina: a Farinha de Cruzeiro do Sul é saborosa e um patrimônio do Brasil

Por Redação* |
Foto: Marcos Vicentti/Secom Acre |

 

A farinha de Cruzeiro do Sul se aperfeiçoou após a chegada dos primeiros migrantes, principalmente cearenses, que fugiam da Grande Seca do Nordeste, entre os anos 1877 e 1880, quando o Brasil era um império e o atual território do Acre pertencia à Bolívia e ao Peru.

Milhares de retirantes vieram para a Amazônia impulsionados pela promessa de uma vida próspera e farta a partir do trabalho de extração do látex das seringueiras. Mas a realidade da época era outra, repleta de dificuldades.

Os nordestinos trouxeram seus hábitos e costumes alimentares, entre eles a produção da farinha. A troca de conhecimentos com os indígenas locais, que já plantavam e consumiam mandioca, aliada à junção de novas técnicas e etapas ao modo de preparo, entre outras adaptações rudimentares, foram responsáveis pelas características inconfundíveis deste alimento produzido no extremo oeste do país.

“O que aconteceu no fim do século XIX foi a fusão das culturas indígena e nordestina. A mandioca já era um alimento bastante consumido pelos nossos indígenas, mas diferente dos nordestinos, eles não possuíam a técnica de produzir farinha. Foi um começo bastante complicado e com muitos ajustes, que acabaram dando certo e resultaram neste produto que conhecemos hoje”, acrescenta Joana Leite, pesquisadora da área de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Após o fim do Primeiro Ciclo da Borracha, o principal produto da região entrou em decadência e novas alternativas econômicas ocuparam espaço, entre elas a fabricação de farinha. Com uma qualidade bem superior às demais, o alimento despontou e ganhou cada vez mais fama, espaço no mercado e caiu no paladar das pessoas ao longo dos anos.

Mas o que torna a farinha de Cruzeiro do Sul tão saborosa?

Por toda a sua história, a farinha de Cruzeiro do Sul se tornou um verdadeiro patrimônio nacional. Para chegar até a mesa dos consumidores, o alimento percorre um longo processo. Desde o plantio da mandioca até o produto pronto para consumo são, aproximadamente, nove meses. A mágica acontece nas chamadas casas de farinha, onde todo o processo de feitio é concentrado. Um trabalho familiar, que ultrapassa gerações.

Tudo começa após a retirada da mandioca do solo, o alimento é logo levado para a casa de farinha, onde é colocada em um equipamento chamado bolador. Nesta etapa, são retiradas a maior parte das impurezas, como o excesso de terra e as folhas. Em seguida, a raízes são descascadas manualmente e postas em reservatórios de água misturada com cloro para serem lavadas e evitar contaminação.

Para a pesquisadora Joana Leite, que acompanha a cadeia produtiva da mandioca desde 2000, o que torna a farinha de Cruzeiro do Sul única é o modo de preparo.

“Temos esse produto no Brasil inteiro, mas os sabores, texturas e crocância são completamente diferentes, porque cada lugar faz do seu próprio jeito. Aqui no Acre, especialmente no Juruá, essa tradição de mais de um século, onde o processo de fabricação é praticamente o mesmo, e que é passado de pai para filho consolidou o modo de saber”, pontuou.

Capital nacional da farinha de mandioca

A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária aprovou no dia 21 de janeiro de 2024 o projeto do senador Alan Rick, do União do Acre, que confere o título de capital nacional da farinha de mandioca ao município acriano de Cruzeiro do Sul. Primeiro alimento do Brasil a receber o selo de indicação geográfica, por sua excelência e qualidade, a farinha de mandioca de Cruzeiro do Sul tem características próprias, decorrentes das condições ambientais e do modo como é produzida, de acordo com Alan Rick.

Se não houver pedido para votação pelo Plenário do Senado, o projeto que confere ao município acriano de Cruzeiro do Sul o título de capital nacional da farinha de mandioca seguirá para análise da Câmara dos Deputados.

 

*Com informações da Agência Acre

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